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sábado, 21 de agosto de 2010

Discussão sobre amianto se arrasta no Congresso

Câmara analisa proposta para banir mineral, já proibido em outros países, mas debate não avança. Indústria movimenta 2,5 bilhões de reais por ano

O deputado Edson Duarte (PV-GO) é autor do relatório que pede a proibição da produção de amianto

Nos últimos quatro meses, a cada reunião da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, o espaço destinado à plateia tem ficado repleto de trabalhadores que atuam na extração do amianto, vindos de Goiás. Eles vestem camisetas brancas com frases em defesa da exploração do mineral. Já fizeram a viagem oito vezes, sem que o assunto fosse votado pela Comissão.

O último adiamento se deu nesta quarta-feira (18), por falta de quórum. O mesmo lobby que financia a vinda de três ou quatro ônibus com manifestantes a Brasília atua para adiar a discussão, na Câmara, do relatório que sugere banir o amianto do país. Até agora, a estratégia tem dado certo. Deputados contrários à proibição - quase todos de Goiás - têm esvaziado as sessões.

O amianto é uma espécie de fibra mineral usada principalmente na produção de telhas e caixas d'água. Por recomendação da Organização Mundial da Saúde, a substância já foi proibida em mais de 50 países devido a estudos que demonstraram suas propriedades cancerígenas. Mas a estimativa é que 125 milhões de pessoas trabalhem diretamente com o minério. Leia aqui a análise de especialistas sobre os efeitos do amianto na saúde.

O Brasil é o terceiro maior exportador e o quinto maior produtor no mundo. Aqui, o único local de extração é em Minaçu, a 500 km de Goiânia. A mineradora SAMA, ligada à Eternit, é quem controla a extração da substância. A empresa é uma das maiores fontes de arrecadação para o governo de Goiás. Somente a extração do crisotila, uma das formas do amianto, movimenta 2,5 bilhões de reais por ano no país e emprega 200 mil trabalhadores, direta ou indiretamente.

Durante dois anos, um grupo de trabalho da Comissão de Meio Ambiente debruçou-se sobre o tema. O deputado Edson Duarte (PV-GO), autor de um relatório de 750 páginas, pede a proibição total da produção e da importação do amianto. A determinação, mesmo se aprovada, não tem poder de lei. Mas pode servir de base para um futuro projeto de lei. Ainda assim, a atuação de deputados contrários, especialmente de Goiás, tem adiado sucessivas vezes a votação do parecer.

A polêmica em torno da questão é antiga e já chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), a última instância do Judiciário brasileiro. Há uma ação no STF pedindo a proibição do amianto no país. O caso tramita desde abril de 2008 e está parado há quase um ano. A representação foi feita pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) e pela Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT). O alvo da ação é uma lei federal, de 1995, que regulamenta o uso do amianto no Brasil.

Pesquisas - No documento, o relator também afirma que a mineradora SAMA financiaria não só o Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC), mas também a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Amianto (CNTA) - que receberia cerca de R$ 600 mil por ano da companhia; e, por sua vez, ajudaria a manter o Sindicato dos Trabalhadores, que vai a Brasília pedir a rejeição do relatório que pretende banir o amianto do país.

“As únicas pesquisas feitas até agora eram as do lobby. Nosso grupo de trabalho percorreu o Brasil para mostrar os riscos do amianto", diz Edson Duarte. A perspectiva mais otimista, agora, é a de que o relatório seja votado depois das eleições de outubro. Mas o relator Edson Duarte diz que a discussão, por si só, já é um avanço.

O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) devolve na mesma moeda as insinuações de que atuaria a favor da mineradora SAMA. Acusa os que defendem banir o amianto do país de serem financiados pela companhia francesa Saint-Gobain, fabricante de um material sintético que pode ser usado em substituição ao amianto. "É muito mais digno você representar o seu estado do que representar uma multinacional”, provoca.

O parlamentar argumenta que o uso controlado do amianto crisotila não oferece grandes riscos aos funcionários. O Instituto Brasileiro do Crisotila alega que não há casos de trabalhadores doentes por causa do amianto desde a década de 1980.

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/debate-sobre-poribicao-do-amianto-se-arrasta-no-congresso

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